segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

DOIS POEMAS DE DIOGO CABRAL

“O simples esboço do que deveria ter sido ou do que se poderia pensar”
Collage por Roberto Bessa.


QUE OS FIOS SE UNAM NESTA CAPITAL

Não tecerás as cobras
De teus parques distantes
As irmãs Papin aterrissaram
No coito das cartolas

A experiência translúcida
De vivenciar cavalos de batalha
À beira do rio anil
Somente equivale a duas mil almas
Desalojadas pelo silêncio
Viril da guarda nacional republicana

Aconteça que acontecer
Verás pelos becos perdidos
Da ilha
(porque viver numa ilha é alcova eqüidistante)
Filhos descontentes com seus leites maternais

O átrio perecerá de frio
Diante da perda fugaz
Da memória celestial
De constelações carregadas
De mulheres saias bebidas

Os autômatos
Os automóveis
As celas coletivas
Conterão a realidade
A carne e terra da realidade

O chão cuspido pelas gerações
Em sangue resplandecerá
Toda tradição misturada
Às festividades de João
Pedro ao Santo Momo
De fevereiro

Diz um irmão
A realidade é o chão
A realidade é o chão

São Luís, 14 de fevereiro de 2008


ESTUDO SOBRE A BAÍA #01

A tarde beira a baía
Com seus raios dourados
De assombro

O anúncio das trevas vem
Do oeste
As aves fogem das batidas
Incontidas de escuridão
Voam como feras enjauladas
Com brilho de crianças do passado

A tarde passa nas lâminas do veleiro
A tarde passa no tormento inaudito
Das nuvens sacras que denunciam
As incertezas canônicas

Os amores passam sorrindo
Ébrios pelo sagrado cais
Da ilha de São Luís

A podridão encarcerada
Se liberta com o sexo
Telúrico das televisões

Chefes de arma
Os pássaros voam em volta da baía
A perda repentina do firmamento
Enrola os sonhos coração de menino velho
Poente

São Luís, 8 de fevereiro de 2008

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