terça-feira, 4 de dezembro de 2007

MÁRIO E OS AUTÔMATOS

Para Lenildo Gomes

Ouvem-se apenas os mugidos dos moscas na livraria. De repente surge a figura esquiva do poeta Mário Gomes gritando ferozmente: “Eu quero é buceta, priquito...” Alguns ficam boquiabertos, mesmo já conhecendo-o, e outros contentes. O gerente diz sorrindo: “Que é isso Mário Gomes, que é isso...” Mas o poeta o ignora e continua: “Xoxota, eu quero é xoxota.”. O gerente, espantosamente pálido, não tem outro remédio senão chicoteá-lo. Vale ressaltar que com muitos acontece nas melhores livrarias. Um padre entra, toma o chicote da mão do gerente e o observa com lágrimas nos olhos, joga-o no lixo. Abre uma maleta e puxa o seu estimado “açoite do suplício” e põe-se a castigar o poeta sem dó nem piedade. Sangue, cacos de vidro, moscas, livros, autômatos (Lembrem-se: um país se faz com autômatos e livros). Mário, completamente abatido estirado na entrada da livraria, escreve no chão com o próprio sangue: XANA! Um juiz brada por silêncio e, com trejeitos simiescos, bate o martelo. Os jurados chegam a um veredicto: consideram-no culpado. O padre? Evidente que não. O juiz, alegando profundo estresse, saca de um revólver e descarrega-o no infeliz. Um minuto de silêncio. Mário se levanta com o corpo crivado de balas; arruma-se, à medida do possível, e retruca: “magote de sicofantas, martelo desgraçado, lugares sempre errados...” E sai como se nada tivesse acontecido.

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