sábado, 6 de outubro de 2007

VERDADE INSTÁVEL NO REINO DE GADAN

Acontece que, pela manhã, entre cenários e figurinos que movem o juízo de qualquer um, o sol mostra-me os dentes, esmurra meu rosto óbvio e o sono cai longe. Cai como quem cai de uma gigantesca bicicleta de verão, perto do desencaracolar do dia; cai nas proximidades de um espelho que se enrosca para o bote. Uma verdade enquanto me vejo completamente sem usura e me faço visagem: minha barba explode vertiginosamente. Resgato a distância em águas que já não deslocam moinhos; arrasto pesadas lembranças pelos arredores da antiga morada, em busca das curiosas fotografias reveladas pelo processo de esquecimento, mas só me restam teias e algumas pancadas de chuva. Foram-se as cores, apagou-se o tempo. Fundamentos fetais, emaranhados fatais... É uma enorme aranha que salta de minha cabeça. Ei-la, adorável cerebracnídea, bola de pelos negros com infinitas patas, que me presenteia com um biscoitinho da sorte: “o presente ausente das futuras interrogações encontra-se no passado pesado”. A vida está cheia de inevitáveis reminiscências desse tipo.

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